Trabalhar por turnos destrói o cérebro?

 "Trabalhar por turnos destrói o cérebro", esta foi a conclusão de um estudo realizado por uma universidade.


Trabalhar por turnos é uma realidade para muitos: enfermeiros, seguranças, motoristas, operários. Mas será que este ritmo desencontrado está a cobrar um preço demasiado alto ao nosso cérebro? À primeira vista, parece apenas uma questão de adaptação: trocar o dia pela noite, ajustar o sono, seguir em frente. No entanto, há quem diga que este modelo pode fazer mais do que cansar, pode, com o tempo, danificar a mente de formas que só agora começamos a entender.

O cérebro gosta de rotinas. O nosso relógio biológico, esse maestro interno, regula o sono, o apetite e até o humor com base na luz do dia e na escuridão da noite. Quando trabalhamos por turnos, viramos esse sistema do avesso. Uma semana acordamos às 6 da manhã, na outra dormimos às 8, e o corpo nunca sabe o que esperar. Estudos já mostram que esta desordem, chamada de disrupção circadiana, afeta a memória, a concentração e a capacidade de tomar decisões. É como se o cérebro vivesse num jet lag eterno, sempre a tentar apanhar o ritmo.

Mas o impacto vai além do imediato. Pesquisas sugerem que anos de turnos irregulares podem acelerar o envelhecimento cognitivo. Um estudo famoso, feito com milhares de trabalhadores, concluiu que uma década neste regime equivale a perder vários anos de agilidade mental, como se o cérebro envelhecesse antes do tempo. Não é difícil imaginar porquê: o sono, esse reparador essencial, torna-se fragmentado ou insuficiente. Sem ele, as células nervosas acumulam toxinas, a irritabilidade cresce e a paciência esgota-se. Quem já fez um turno da noite sabe como o mundo parece mais confuso às 4 da manhã.

E há o lado emocional. Trabalhar quando os outros dormem isola. Perdem-se jantares com amigos, fins de semana em família, e o stress de estar "desfasado" do mundo pode abrir a porta à ansiedade ou à depressão. O cérebro, afinal, não é só uma máquina de pensar, é também onde sentimos. Quando o equilíbrio se quebra, o preço reflete-se nas pequenas coisas: um esquecimento aqui, uma discussão ali, até que se torna difícil ignorar.

Ainda assim, nem tudo é fatalidade. Há quem defenda que, com estratégias certas, como manter horários fixos dentro do possível, usar cortinas blackout ou priorizar a exposição à luz natural, os danos podem ser minimizados. Empresas também podem ajudar, oferecendo turnos mais previsíveis ou pausas decentes. Porque, no fundo, o problema não é o trabalho por turnos em si, mas a forma como o encaixamos na nossa biologia. 

Destroi o cérebro? Não de forma literal, mas desgasta-o, sim. Para quem vive esta realidade, o desafio é proteger-se, e, para a sociedade, é reconhecer que nem todos os empregos deveriam custar tanto. Talvez o verdadeiro mal esteja em fingir que o corpo aguenta tudo. Ele não aguenta, e o cérebro, esse, avisa-nos primeiro.







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