Hoje em dia quem finge que trabalha é tão bem visto como quem se dedica a 100%?

 Nos dias que correm, quem finge que trabalha é tão bem visto como quem se dedica a 100%?


Nos tempos que correm, o mundo do trabalho parece ter-se tornado um palco onde a aparência muitas vezes supera a essência. É uma realidade que deixa um sabor agridoce: quem finge que trabalha, mantendo uma fachada de produtividade, pode ser tão bem visto – ou até mais – do que aqueles que se entregam de corpo e alma às suas funções. Esta inversão de valores reflete mudanças culturais, pressões sociais e, por vezes, uma certa apatia coletiva face ao mérito genuíno.

Houve um tempo em que o esforço era o padrão de ouro. Os nossos avós contavam histórias de longas horas nos campos ou nas fábricas, onde o suor era a prova viva do compromisso. Hoje, porém, a tecnologia e as dinâmicas modernas criaram um ambiente onde a visibilidade pesa mais do que os resultados. Basta estar presente nas reuniões certas, enviar emails bem redigidos ou partilhar uma publicação vistosa no LinkedIn para parecer "ocupado" e "produtivo". Enquanto isso, quem trabalha nos bastidores, resolvendo problemas reais sem alarde, nem sempre recebe o reconhecimento que merece.

Esta tendência tem raízes profundas. Por um lado, as empresas valorizam cada vez mais a imagem. Num mercado competitivo, o que se projeta para o exterior – seja para clientes, parceiros ou até colegas – ganha relevância. Alguém que domina a arte de "parecer" eficiente, mesmo que entregue pouco, pode subir na hierarquia mais depressa do que o colega que prefere o silêncio e os resultados concretos. Por outro lado, a cultura do "multitasking" e da conectividade constante criou uma ilusão de trabalho perpétuo. Responder a mensagens às tantas da noite ou estar sempre "online" é confundido com dedicação, mesmo que o impacto real seja mínimo.

Mas será que a culpa é só das organizações? Não inteiramente. Nós, enquanto sociedade, também alimentamos este ciclo. Admiramos quem fala bem, quem se promove com carisma, mesmo que por trás da cortina haja pouco a mostrar. Já os que se dedicam a 100%, muitas vezes discretos e focados na tarefa, podem ser vistos como "certinhos" ou até ingénuos por não jogarem o mesmo jogo.

Isto levanta uma questão desconfortável: o que valorizamos realmente? Se recompensarmos a fachada em vez do esforço, corremos o risco de desmotivar quem verdadeiramente faz a diferença. Imagine-se um colega que passa horas a resolver um problema crítico enquanto outro faz barulho sobre feitos menores – e é este último que recebe os aplausos. Com o tempo, até os mais dedicados podem perguntar-se: "Vale a pena?"

Ainda assim, nem tudo está perdido. Há empresas e líderes que começam a perceber este desequilíbrio, apostando em métricas mais justas e culturas que premeiam o mérito real. Para os trabalhadores, fica o desafio de encontrar um meio-termo: mostrar o seu valor sem cair na armadilha da superficialidade. Porque, no fundo, o trabalho genuíno tem um brilho próprio – e, mais cedo ou mais tarde, a verdade acaba por vir ao de cima. Até lá, vivemos nesta dança curiosa onde fingir e fazer parecem, por vezes, valer o mesmo.






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